Desfralde: Será que estamos prontos?
- Déba Doda
- 20 de mar. de 2020
- 6 min de leitura
Atualizado: 14 de jun. de 2022
Olá, vamos falar de desfralde? Primeiramente, se você está pensando em desfraldar uma criança, seja seu filho(a) ou aluno, é importante se perguntar: estamos prontos para isso?
Certamente você já ouviu algum conselho, presenciou algum desfralde frustrante ou até mesmo bem sucedido, mas a verdade que eu tenho para você é: o que deu certo para um, não necessariamente, dará certo para outro. Isso acontece porque cada criança é de um jeito. Ainda que se tente fazer do mesmo jeito que aconteceu com o mais velho, não será a mesma experiência, pois o segundo filho já nasce num ambiente diferente do primeiro e quem desfralda o segundo já leva consigo as expectativas do primeiro, ou seja, estamos sempre começando do zero. E aí, eu volto ao título: estamos prontos para isso? O plural é usado aqui pois embora a criança seja a protagonista do processo, é indispensável que a família esteja preparada para oferecer o auxílio para o caminho em direção a esta autonomia.
É preciso que os adultos (e aqui falo não somente dos responsáveis familiares, mas estendo aos educadores no caso de crianças que já frequentam a escola) conheçam bem a criança. Logo, a fase de "adaptação escolar", que hoje chamada de acolhimento, não é a época ideal para iniciar este processo e, provavelmente, a maioria dos pais ouviram isso dos professores. Os meses de março e abril costumam ser os meses em que as famílias com crianças na escola, tendem a iniciar o desfralde das crianças que já apresentam sinais. Há quem espere o recesso escolar de junho ou ainda as férias de dezembro. Portanto, decidi listar alguns pontos importantes para tornar este processo o mais tranquilo possível. Prontos? Então, vamos lá:
1º Passo: A CRIANÇA ESTÁ FISIOLOGICAMENTE/ EMOCIONALMENTE PREPARADA?
Como descobrir?
- Ela acorda com a fralda seca? - Ela se incomoda com a fralda cheia?
- Ela arranca a fralda sozinha?
- Ela pede para usar o banheiro? - Avisa que está fazendo ou que fez suas necessidades?
Obs.: às vezes a criança faz xixi e fala que fez ou quer fazer cocô e isso é natural. Ela pode aprender a diferenciar os dois durante o processo. Não é necessário que ela já tenha este conceito claro em sua cabeça para dar início ao desfralde, porque muitas vezes o corpo já aprendeu e a questão é puramente linguística.
RESUMINDO: O primeiro passo é EXCLUSIVIDADE da criança! Precisamos nos certificar que seu organismo está preparado. É a criança quem indica e inicia o desfralde. ISSO É MUITO IMPORTANTE!!!! Se a criança não der o primeiro passo, ESQUEÇAM! O desfralde é dela! Nosso papel é apenas de auxiliar o processo, ok? Entenderam mesmo? Então agora podemos seguir rs
REGRA #1
DESfralde é DES, no sentido de tirar a fralda! Ou seja, NÃO é possível DESfraldar uma criança, colocando fralda às vezes.
"Ah, mas eu tenho que ir ao mercado e não tenho com quem deixá-la." Tudo bem, leve a criança ao banheiro antes de sair de casa e a incentive a segurar o xixi/cocô durante o caminho, lembrando-a de que ela não usa mais fralda!
Lembrem que só iniciaremos o desfralde quando a criança apresentar os sinais de que está pronta? Então, confiem! Porém, assim que chegarem ao mercado, ou onde for, levem-na ao banheiro (e andem sempre com uma troca de roupa, caso haja escape)
"Ah, mas e o meu sofá? E o meu tapete? E o banco do carro?" Escapes assim poderão acontecer, por isso é importante que estejam TODOS preparados. Não as recrimine. Se acontecer, explique que acontece e você está lá pra ajudar.
2º Passo: MARQUEM O TEMPO!
Nos dois primeiros dias, geralmente, a criança pode deixar escapar algumas vezes, isso porque ela ainda está processando que não usa mais fralda e não, necessariamente, que não consegue controlar. Por isso, a cada 40 minutos, aproximadamente (tem criança que segura por mais tempo, outras menos), lembrem-na de que agora o xixi é no banheiro, mais especificamente no vaso sanitário! (Risos) (Acreditem, às vezes é preciso ser bem específica)
ATENÇÃO! Lembrem-se que o objetivo de marcar o tempo não é que a criança faça o xixi, mas que ela aprenda a esperar, segurar, que ela esteja atenta ao processo de entender que não existe mais fralda e o que o jeito e o lugar de fazer suas necessidades mudaram. Levá-la toda hora ao banheiro, não ensinará a criança a ter consciência do processo, apenas a deixará ansiosa e com isso ela não se concentrará em nada mais, visto que tudo que estiver fazendo precisará ser interrompido para fazer xixi. Então, cuidado com isso!
REGRA #2
NÃO CEDAM À “COMODIDADE” DA FRALDA!
Essa regra na verdade é só pra reforçar a número 1, POR QUÊ?
Um dos maiores, senão o maior, descuido cometido pelos adultos neste processo é colocar a fralda por causa dos escapes, porém pasmem:
QUANTO MAIS INSISTIREM NA FRALDA, MAIS ESCAPES OCORRERÃO!
É assim! E não o contrário. Os adultos tendem a achar que colocam a fralda porque escapa e aí ela vai deixar escapar por causa da fralda. Escapa porque a criança se confunde, vai ficando cada vez mais difícil entender quando pode ou não pode fazer em qualquer lugar.
Lembram que a criança está processando que não usa mais fralda? Se de repente a fralda volta, ela não vai entender o que precisa fazer e ficará ainda mais confusa. E nós queremos ajudá-la, certo? Então, esqueçam a fralda. Ela não é mais uma opção.
3º Passo: A FRALDA DA NOITE!
Este passo é bem específico para cada caso. Tem famílias corajosas que já logo tiram a fralda da noite de uma vez. Forram o colchão com plástico, ou não, e vão na fé. Algumas famílias acordam a criança no meio da noite para fazer xixi. Algumas crianças já acordam sozinhas para isso. Afinal, vocês se lembram que um dos sinais para início do processo é a fralda seca? Então temos que confiar.
"Socorro, o colchão!"
Vocês podem seguir as técnicas citadas, ou se não conseguirem ainda, colocar a fralda na criança a noite depois que ela dormir, e tirar de manhã, antes dela acordar. Mas vocês verão que isso dá tanto trabalho que acabarão confiando pelo cansaço e se surpreenderão!
REGRA #3
NÃO SUBESTIMEM AS CRIANÇAS!
Esta regra, inclusive, não serve apenas para o desfralde, mas para tudo. Principalmente, no que diz respeito à conquista da autonomia. Precisamos entender que a criança não é uma miniatura do adulto. Logo, temos que respeitar seu processo e seu ritmo. E isso, definitivamente, não quer dizer que elas não serão capazes de fazer as coisas que NÓS julgamos não conseguirem.
CRIANÇAS SÃO CAPAZES DE APRENDER, À SUA MANEIRA E DENTRO DO SEU RITMO, TUDO QUE ESTIVERMOS DISPOSTOS A ENSINÁ-LAS COM RESPEITO E CONFIANÇA.
ALGUNS RELATOS QUE PODEM AJUDAR:
- Tem criança é mais reservada e este momento, onde a família e a escola tendem a fazer festa e vibrar com cada acerto, podem constranger a criança e tornar o processo uma tortura. Com estas crianças talvez você precise criar um ambiente seguro e dar certa privacidade, estar por perto para ajudá-la, mas sem ficar "em cima". Algumas mães relatam que depois que deixaram a criança sentar no vaso sozinha, e esperaram do lado de fora do banheiro tiveram muito sucesso!
- Com outras crianças, porém, as comemorações dão super certo, pois as estimulam.
- Tem menino que prefere fazer xixi em pé, outros sentados. Procure a melhor forma PARA A CRIANÇA.
- Incentive-a a abaixar e subir as calças sozinha, bem como ensiná-la a higienizar-se. Quanto mais pudermos ampliar a autonomia neste processo, mais ela se sentirá confiante e CAPAZ.
- Penico às vezes pode ser um problema, já redutores de assento costumam ser bem eficazes. Para ajudar na autonomia, vocês podem deixar algum caixote que sirva de degrau para que a criança consiga alcançar o vaso, repousar os pés e alcançar a pia, quando a criança for muito pequena, ou o mobiliário muito alto.
- Ainda que façam tudo certinho, escapes podem acontecer. Procure manter a calma e lembrar a criança de que vocês estão juntos neste processo. Acolha-a no desconforto e ela sentirá que vocês estão juntos nessa.
:)
Feito isso, acredito que o desfralde será tranquilo. Sei que parece muita coisa, mas não é não. Apenas quis deixar esclarecidas as dúvidas mais frequentes. Quando estes combinados são seguidos direitinho, crianças, família e escola, tendem a se surpreender com o resultado. O não cumprimento destas regras, por exemplo, pode fazer este processo de semanas durar meses, e imaginem quanta angustia isso trará aos envolvidos.
Quero deixar claro mais uma vez, que o que dá certo para uma criança, não necessariamente dará certo para outra e por isso é importante lembrarmos que todos são diferentes. As trocas de experiências entre família e escola e entre uma família e outra, são riquíssimas, pois além de ampliar o nosso conhecimento, possibilitam a criação de novos laços. Portanto, troquem informações! E caso conheçam alguém que esteja enfrentando este processo com dificuldade, ou esteja pensando em começar, talvez encaminhar este texto seja o primeiro passo que você pode dar para ajudar o próximo. E eu espero que, efetivamente, tenha lhe ajudado!
Débora Paixão
Psicóloga, Psicopedagoga e Educadora.
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